Apoiar organizações periféricas que transformam realidades e fortalecem comunidades é, acima de tudo, apoiar mulheres. Elas são protagonistas: representam 34% dos empreendimentos no Brasil (IBGE, 2020), mas ainda enfrentam barreiras como desigualdade de gênero, machismo e, no caso das mulheres negras, o racismo estrutural. Para muitas, fundar uma agência de comunicação foi a resposta à falta de oportunidades no mercado, para outras um caminho para o fortalecimento da comunicação popular e da educomunicação.
Catarina de Angola, CEO da Angola Comunicação, Recife (PE), e Gisele Ramos, CEO da Agência Chocalho, do Vale do Salitre (BA), seguiram esse caminho. Como mulheres nordestinas, negras e parte da rede Énois, elas não apenas criaram novas possibilidades para si, mas também abriram portas para outras comunicadoras que hoje atuam em suas agências.
No entanto, liderar uma organização ainda é um grande desafio para as mulheres. O modelo de negócio vigente não considera a realidade das chefes de família, mães e profissionais que acumulam jornadas duplas e triplas. A pesquisa Retrato do Jornalismo Brasileiro, realizada pela Énois em parceria com o CEERT, revela que mulheres negras e periféricas frequentemente precisam tirar dinheiro do próprio bolso e manter outros empregos para sustentar suas iniciativas. Enquanto isso, homens brancos, em sua maioria, não enfrentam os mesmos desafios e ainda conseguem contratar até cinco funcionários.
“É urgente repensar os negócios para incluir a realidade das mulheres, que acumulam responsabilidades familiares. O mundo corporativo ainda favorece os homens. Precisamos de mais investimentos em mulheres empreendedoras e maior acesso a formações em gestão e educação financeira.” – Gisele Ramos
Em 15 anos, a Énois apoiou mais de 1.000 comunicadoras, sendo 50% mulheres negras, com um investimento de R$ 500 mil, evidenciando o compromisso com a democracia no dia a dia, que é, antes de tudo, tocada por mulheres, periféricas, nortistas e mães.
A presença de mulheres na liderança da comunicação é essencial para fortalecer uma abordagem decolonial, feminista e antirracista. São essas perspectivas que garantem uma comunicação comprometida com a diversidade e a justiça social.
“Minha atuação na comunicação é feminista e antirracista, garantindo que mulheres protagonizem seus negócios, suas narrativas e sejam reconhecidas como sujeitos de direitos.” – Catarina de Angola
O empreendedorismo tem sido uma alternativa para muitas mulheres, mas para que suas iniciativas sejam sustentáveis, é fundamental oferecer suporte financeiro, modelos de negócio adequados às suas realidades, acesso à recursos e oportunidades de formação. Afinal, são elas que, diariamente, estão à frente nos territórios informando, transformando e gerando impacto real.
Texto por Glória Maria, comunicadora institucional
