Há jornalismo de qualidade sendo feito em situação de pobreza nas periferias

Reconhecer que há jornalistas – especialmente mulheres e pessoas negras – produzindo informação de qualidade em condições de pobreza é fundamental para buscar condições dignas de trabalho e diferenciar empreendedorismo de precarização no campo do jornalismo. Esse é o ponto central do artigo “Quem faz jornalismo das periferias no Brasil? Perfil e desafios das iniciativas jornalísticas”, apresentado no 1º Simpósio de Desigualdade e Gênero em Corumbá, Mato Grosso do Sul.

disponível na página 186: https://lnkd.in/dMvcexej

A pesquisa Retrato do Jornalismo Brasileiro foi pioneira no mapeamento do perfil racial, de gênero e de território das iniciativas jornalísticas. Se debruçou sobre o jornalismo periférico, frequentemente desconsiderado como jornalismo porque visto como missão, como extensão dos corpos periféricos porque a informação apoia sua defesa e existência.

“É preciso falar de forma aberta e sem medo sobre jornalistas periféricas produzindo informação de qualidade em situação de pobreza. Por isso o jornalismo, desde dentro das universidades, precisa discutir classe social. São as pessoas ricas e brancas que majoritariamente conseguem ainda seguir empregados num mercado em crise”, disse Paula Faustino Sampaio, coordenadora do Grupo de Trabalho Mulheres, Territórios E Violências: Histórias De Destemor.

O artigo foi produzido pela diretora de desenvolvimento institucional da Énois, simone cunha, e a coordenadora da Retrato, Angela Werdemberg dos Santos, e mostra a oposição entre a importância do jornalismo periférico para informar as comunidades e efetivar a democracia no dia a dia, e a falta de recursos para manter essas iniciativas, o que alimenta o ciclo da desigualdade e da precarização.

A pesquisa mostra ainda as condições desiguais em que é feita a comunicação no país. De um lado, muitas mulheres negras e periféricas têm de pagar para manter suas iniciativas. São CEOs voluntárias, como descreve o CEERT, parceiro da Énois na pesquisa. De outro, jornalistas homens brancos desenvolvendo suas iniciativas e conseguindo contratar até 5 funcionários.

A atuação de iniciativas que articulam o campo da comunicação periférica e produzem dados sobre essa realidade são fundamentais para o fortalecimento estrutural e a inclusão produtiva na informação.